O marco do bicentenário do 2 de Julho de 1823, data da independência do Brasil na Bahia, resultante das lutas pela emancipação do país iniciadas em 25 de junho de 1822 na cidade de Cachoeira, será pano de fundo para a discussão da formação das identidades brasileiras e da importância de conhecer e visibilizar as diversas narrativas que compõem essa história da independência nacional.

Com Any Manuela Freitas, Daiara Tukano, Dona Dalva Damiana, Renata Bittencourt e Wlamyra Albuquerque
Mediação: Georgina Gonçalves dos Santos

Sobre Any Manuela Freitas
Sambadeira, especialista em Políticas e Gestão Cultural pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e coordenadora da Casa do Samba de Roda de Dona Dalva. Nascida em uma família de sambadores, iniciou suas atividades no Samba de Roda Mirim Flor do Dia, onde obteve influência para a conscientização para o trabalho de memória e continuidade do Samba de Roda tradicional. Mais tarde passa a integrar o Samba de Roda Suerdieck, também conhecido como Samba de Dona Dalva. Com a vivência no Samba de Roda, acompanha a sua avó Dona Dalva em ações educativas como palestras, oficinas e seminários, traçando assim o mesmo caminho de transmissão e ensinamentos da cultural local em escolas municipais. Em 2007, concluiu a graduação em Bacharel em Administração na Faculdade Adventista de Administração do Nordeste (FAAD) e, em 2019, se especializa em Políticas e Gestão Cultural defendendo o Trabalho de Conclusão de Curso “Casa do Samba de Roda de Dona Dalva: Ponto de Cultura e Política de Salvaguarda, um estudo de caso”. Gestora na Associação Cultural do Samba de Roda Dalva Damiana de Freitas, pesquisadora do Laboratório de Etnomusicologia, Antropologia e Audiovisual (LEAA-Recôncavo). Dentre os trabalhos desenvolvidos, estão a direção do “Casa de Oyá” (2021), produção audiovisual sobre o Ilê Axé Alaketu Oyá Funan, a escrita do livro “Preta Nagô”, a produção do CD “Samba Baiana – a vivência cantada de Dona Dalva” e atuação junto à Associação Cultural do Samba de Roda Dalva Damiana de Freitas na proposição do registro do Samba de Roda do Recôncavo ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Sobre Daiara Tukano
Daiara Hori Figueroa Sampaio – Duhigô, do povo indígena Tukano – Yé’pá Mahsã, clã Eremiri Hãusiro Parameri do Alto Rio Negro na amazônia brasileira, é nascida em São Paulo. Artista, ativista, educadora e comunicadora. Graduada em Artes Visuais e mestre em Direitos Humanos pela Universidade de Brasília (UnB), pesquisa o direito à memória e à verdade dos povos indígenas. Foi coordenadora da Rádio Yandê (www.radioyande.com), primeira webrádio indígena do Brasil, de 2015 a 2021. Ganhadora do Prêmio PIPA Online 2021, organizado pelo Instituto PIPA, o mais relevante prêmio brasileiro de artes visuais. Estuda a cultura, história e espiritualidade tradicional de seu povo junto à sua família. Reside em Brasília, DF.

Sobre Dona Dalva Damiana
Dona Dalva Damiana é filha de Obaluaê, nasceu na cidade e Cachoeira, na região do Recôncavo da Bahia, e está com 95 anos. Filha de pai sapateiro e mãe charuteira, estudou até o segundo ano primário e, desde muito nova, foi obrigada a abdicar dos estudos para contribuir com o sustento da família. Trabalhou como operária charuteira na fábrica Suerdieck, local onde criou o grupo cultural Samba de Roda Suerdieck em 1958. Dalva Damiana é artista completa: além de sambadeira, é cantora, compositora, integrante da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, organizadora do Terno de Reis Esperança da Paz, Terno das Baianas do Acarajé, Quadrilha Junina da Terceira idade “Quanto mais velho, melhor” e o Samba de Roda Mirim Flor do Dia, além de procissões e demais ações culturais em Cachoeira. A sua criatividade e organização para a fundação do Samba de Roda Suerdieck resultaram na reunião de elementos e símbolos vivenciados em seu cotidiano, no trabalho e na religiosidade. As tabuinhas utilizadas no palmeado eram ferramentas de trabalho na charutaria, as vestes das baianas do grupo se referem a indumentárias que sua avó paterna utilizava e as cantigas aprendeu com a sua avó materna. Do amor e consciência pela necessidade de preservação do Samba de Roda tradicional, fundou o Samba de Roda Mirim Flor do Dia. Em 2012, foi condecorada com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, por sua vida dedicada à cultura popular, sobretudo ao Samba de Roda tradicional. Possuidora de um vasto repertório musical, contribuiu para o registro do Samba de Roda do Recôncavo Baiano. Em 2003, através da Associação Cultural do Samba de Roda Dalva Damiana de Freitas, solicitou o registro do Samba de Roda ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ação promovida em parceria com a Associação de Pesquisa em Cultura Popular e Música Tradicional do Recôncavo e Associação Cultural Filhos de Nagô. Atualmente, Samba de Roda é Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil (IPHAN-2004), Obra Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade (UNESCO-2005) e Patrimônio Cultural da Bahia (IPAC-2020). Junto com o seu grupo, Dona Dalva possui CDs gravados, dos quais estão o “Samba Baiana – a vivência cantada de Dona Dalva”, “Samba de Roda Suerdieck” e “Samba de Dalva”. Atualmente, é aposentada e, em conjunto com familiares e amigos, promove ações na Casa do Samba de Roda de Dona Dalva, espaço em que recebe visitantes, mantém ativo o seu acervo de fotografias, indumentárias e instrumentos em exposição, promove ensaios e apresentações com a diversidade cultural, além de frequentemente contribuir com o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos.

Sobre Georgina Gonçalves dos Santos
Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Católica do Salvador, mestrado em Educação pela Universidade Federal da Bahia e doutorado em Ciências da Educação na Universidade de Paris VIII, França. Professora Associada da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Dirigiu o Centro de Artes, Humanidades e Letras, entre 2011 e 2015, e foi vice-reitora desta mesma universidade entre os anos de 2015 a 2019. Professora do Programa de Pós-Graduação de Estudos Interdisciplinares sobre Universidade, EISU da Universidade Federal da Bahia e do Programa de Pós-Graduação de Políticas Sociais e Território da Universidade Federal do Recôncavo.

Sobre Renata Bittencourt
Renata Bittencourt é gestora cultural e é responsável pela área de Educação do Instituto Moreira Salles (IMS). É historiadora da arte, tendo desenvolvido pesquisas de mestrado e doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), investigando a representação do negro. Atuou no Itaú Cultural; na Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo; como secretária da Cidadania e da Diversidade do Ministério da Cultura (MinC); como diretora de Processos Museais no Instituto Brasileiro de Museus (Ibram – MinC); e como diretora executiva do Instituto Inhotim. Foi contemplada pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e pela Fulbright.

Sobre Wlamyra Albuquerque
Wlamyra Albuquerque é professora do departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisadora Produtividade 1-D (CNPq). O principal campo de investigação é o da construção de fronteiras sociorraciais e delimitação de direitos na sociedade brasileira durante o processo abolicionista e no pós-abolição. É autora, dentre outros, de “Algazarra nas ruas – comemorações da independência na Bahia” (2000); “O Jogo da Dissimulação – Abolição e cidadania negra no Brasil” (2009); e, em coautoria com Walter Fraga, “Uma história da cultura afro-brasileira” (2010) obteve o Prêmio Jabuti na categoria didático e paradidático. O título mais recente é “De que lado você samba – raça, ciência e política na Bahia” (2021). Em 2022, foi contemplada com o prêmio Tinker, concedido pela Chicago University, e foi selecionada para a cátedra Ruth Cardoso de História do Brasil na Georgetown University. Em maio de 2023, assumiu a Superintendência de Assuntos Internacionais da UFBA.